sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

 

Copaíba: conheça os benefícios da planta medicinal que chama a atenção de cientistas

Muito comum no Brasil, árvore ganhou "cartilha" que destaca as propriedades que fazem bem à saúde
Copaíba da espécie Copaifera reticulata. Foto: Reprodução/Guia das Copaíbas

RIO — Combater bactérias, fungos e parasitas, controlar inflamações, aliviar a dor, diminuir a ansiedade, amenizar a enxaqueca e até tratar corrimentos vaginais. Substâncias naturais encontradas em variados tipos de Copaíbas possuem essas e outras ações que fazem bem para a nossa saúde. A planta medicinal é bem comum em solo brasileira e é a queridinha daqueles que optam pela fitoterapia. Os múltiplos benefícios da árvore vêm chamando a atenção de cientistas de todo o mundo.

A pesquisadora Mariana Santiago, aluna de doutorado na Universidade Federal de Uberlância (UFU), começou a estudar as Copaíbas ainda em sua graduação, quando analisou a atividade antibacteriana de algumas espécies. O interesse pela planta cresceu e o trabalho foi aprofundado no mestrado, feito na Universidade de Franca, que resultou no "Guia das copaíbas: pra quê serve?", uma cartilha que lista as principais propriedades naturais cientificamente comprovadas de nove espécies de Copaíbas encontradas no Brasil. O trabalho foi publicado por meio do projeto ObservaPICS da Fiocruz/PE.

As propriedades benéficas da Copaíba estão presentes em seu óleo, que pode ser extraído do tronco da árvore. Muitas pessoas usam o líquido de forma tópica (passando na pele) ou ingerem pela boca. De acordo com Santiago, quanto mais puro for esse óleo, mais conservadas estarão as propriedades da planta.

— É muito comum encontrar óleos de copaíbas que estão misturados com outras substâncias, já que o processo de extração não é capaz de produzir uma quantidade grande (nível industrial. Então, acabam misturando com outros óleos, com água, e acabam criando formulações com óleo de copaíba. Quanto mais pura for a substância que você adquirir, maiores a chances de obter o efeito desejado.

Cada espécie de Copaíba possui seus benefícios próprios, portanto, nem todas apresentam ação anti-inflamatória ou antibactericida. O Brasil concentra um terço dos tipos de Copaíbas já catalogadas em todo o mundo: 32 espécies das 96. Portanto, em solo brasileiro há uma variedade de árvores que podem contribuir para a manutenção da saúde. 
Para comprar um bom óleo de Copaíba Santiago orienta procurar por empresas que tenham compromisso com a sustentabilidade e possuem histórico de trabalho com a substância, ou então, pequenos produtores, normalmente encontrados em feiras livres, ou até mesmo em hortas comunitárias.

O fato de se tratar de um fitoterápico não faz do óleo de Copaíba inofensivo quando consumido exageradamente: em altas doses, ele pode causar problemas gástricos. O produto não é recomendado para gestantes ou lactantes, e também para pessoas que já tenham problemas gástricos.

"Uma planta medicinal é um remédio como qualquer outro que tem a capacidade de afetar o funcionamento do nosso organismo, por isso é importante associar o conhecimento popular, que aprendemos muitas vezes com nossos avôs, pais, tias, etc., com o conhecimento científico, para que possamos fazer uso desse recurso vegetal de forma segura e obter efeito desejado.", escreveu a pesquisadora na cartilha.

— Se tratando de fitoterapia e o uso de plantas medicinais é muito difícil dizer o que é correto e errado, por mais que medicina moderna esteja avançando, por muitos anos a população sobreviveu com esses saberes. Não podemos dizer que é errada a forma como as pessoas aprenderam a usar essas substâncias, pois elas vêm de um lugar de heranças culturais. Nossa intenção com a cartilha é alinhar as descobertas cientificas com esses saberes populares, potencializando ambos.

Copaíbas e suas propriedades medicinais

Copaifera reticulata

- Proteção contra bactérias;

- Proteção contra picada de insetos;

- Proteção contra ácaros;

- Proteção contra parasitas e vermes;

- Proteção das células do cérebro;

- Contra úlceras;

- Combate inflamações;

- Contra ansiedade;

- Alivia a dor em ferimentos;

- Protege as células do estômago;

- Alivia a tosse;

- Trata corrimento vaginal.

Copaifera multijuga

- Proteção contra picadas de insetos;

- Combate inflamações;

- Proteção contra parasitas e vermes;

- Proteção contra bactérias;

- Alivia a dor em ferimentos;

- Ajuda na cicatrização;

- Protege as células do estômago;

- Proteção contra vírus;

- Diminui a febre;

- Combate enxaqueca

Copaifera langsdorffii

- Combate inflamações;

- Proteção contra bactérias;

- Proteção contra fungos;

- Proteção contra parasitas e vermes;

- Combate doenças de pele;

- Ajuda na cicatrização;

- Protege as células do estômago.

Conheça outras espécies de Copaíbas e suas propriedades medicinais no "Guia das copaíbas: pra quê serve?"



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Artigo: Declaração de Putin e Xi projeta liderança mundial alternativa, por Celso Amorim

 

Artigo: Declaração de Putin e Xi projeta liderança mundial alternativa, por Celso Amorim

Declaração conjunta cristaliza processo de imenso significado geopolítico e constitui, em si mesma, o fato singular mais importante desde os eventos que marcaram o fim da Guerra Fria, escreve Celso Amorim
 14/02/2022 16h52 - atualizado às 17h22
Foto: Leo Pinheiro

Amorim: documento representa "o fim da era da hegemonia quase absoluta dos Estados Unidos sobre os destinos do mundo"

Amorim: documento representa "o fim da era da hegemonia quase absoluta dos Estados Unidos sobre os destinos do mundo"
A declaração conjunta de Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Xi Jinping, líder chinês, cristaliza um processo de imenso significado geopolítico e constitui, em si mesma, o fato singular mais importante desde os eventos que marcaram o fim da Guerra Fria, em particular, a derrubada do Muro de Berlim e, sobretudo, a dissolução da União Soviética.

Mesmo sem a força jurídica de um tratado, a declaração expressa, com uma clareza nunca antes alcançada, uma realidade até aqui vista apenas como uma possibilidade: o fim da era da hegemonia quase absoluta dos Estados Unidos sobre os destinos do mundo.

Em um documento tão denso quanto longo, os líderes do país mais populoso do planeta (e, em breve, também, o economicamente mais forte) e o país com maior território, que coincidentemente é também o que divide com os EUA a primazia em potencial bélico estratégico, traçam os delineamentos de uma ordem mundial baseada em conceitos que diferem substancialmente daqueles sustentados pela potência até aqui dominante. Injetam sua própria visão de ­democracia e desenvolvimento e inserem questões cruciais como a defesa dos direitos humanos em contextos histórico-culturais frequentemente desprezados pela nação norte-americana. São cuidadosos em explicitar a necessidade de maior equilíbrio nas relações internacionais, de modo a levar em conta os interesses de países mais fracos ou mais débeis.

Em uma atitude rara para potências nucleares, colocam o desarmamento praticamente no mesmo pé da não proliferação do arsenal. Chegam a sugerir a necessidade de democratizar a ordem mundial, em uma afirmação que, para muitos, pode parecer de sinceridade duvidosa, à luz de posicionamentos passados no que toca, por exemplo, à reforma do Conselho de Segurança da ONU. Curiosamente, exaltam instituições cuja origem está ligada a iniciativas da superpotência supostamente em declínio e que ela própria tem abandonado em tempos recentes, como as Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio. Por outro lado, em um aspecto que nos diz respeito diretamente, o documento valoriza os BRICS, demonstrando a consciência dos dois líderes em relação à necessidade de alargar a base de sustentação da nova ordem.

De forma pouco usual, o documento combina densidade conceitual com referências à realidade concreta da atualidade político-estratégica. Claramente, os dois líderes criticam os esforços de ­Washington em expandir o alcance da Otan e deploram o seu apoio às “revoluções coloridas”, como a que levou ao poder o governo marcadamente contrário a Moscou na Ucrânia. Ao mesmo tempo, condenam as ações norte-americanos na região do Indo-Pacífico, citando nominalmente alianças lideradas pelos Estados Unidos, como a parceria quadrilateral (envolvendo Índia, Japão e Austrália) e a iniciativa de apoio à transferência de tecnologia de propulsão nuclear de submarinos a Camberra. No caso da doutrina de “uma única China”, a declaração é ainda mais explícita, nomeando Taiwan como parte integrante da nação chinesa.

Os dois líderes, que modestamente se autointitulam simplesmente como “as partes”, invocam uma amizade sem limites e projetam uma aliança, que constitui, de fato, uma liderança alternativa aos projetos de ­Washington para o mundo. Para quem via riscos da “Armadilha de Tucídides” na ultrapassagem dos Estados Unidos pela China, em termos econômicos, os desafios se tornaram ainda mais complexos, com a criação de um grande bloco eurasiano capaz de desafiar o poderio de ­Washington em terrenos variados, do tecnológico ao militar, sem falar no soft power em relação às nações em desenvolvimento, sem deixar de lado temas vitais da atualidade, como mudança climática e cooperação no enfrentamento de pandemias.

Para os que ansiavam por uma nova ordem mundial, ela pode estar a caminho. Resta saber se atenderá plenamente aos desejos de justiça e equilíbrio embalados por muitos. Mais imediatamente, será preciso verificar como os Estados Unidos reagirão a esse desafio colocado à sua hegemonia. Contrariamente ao que a dupla Richard Nixon e Henry Kissinger buscou na Guerra Fria, os movimentos recentes de Washington resultaram na consolidação de uma aliança que muitos reputavam como improvável entre duas potências de imensa dimensão. O dilema entre cooperação e conflito nunca esteve tão próximo.

O que a declaração diz é que o mundo mudou. Cabe a cada Estado e/ou a cada região (como a América do Sul) mostrar como vai se inserir na nova realidade. A viagem do presidente da Argentina, ­Alberto Fernández, a Moscou e Pequim, assim como a adesão do país ao projeto da Nova Rota da Seda, é uma indicação do que pode ocorrer.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, confirmou sua viagem à Rússia. A pergunta que inevitavelmente tem de ser feita é se ele tem noção das complexidades geopolíticas deste momento crucial. Há razões para supor que não.

Celso Amorim foi chanceler nos governos Lula e ministro da Defesa no primeiro mandato de Dilma Rousseff

Publicado originalmente em CartaCapital